segunda-feira, 17 de maio de 2010

FIGURAS DE LINGUAGEM

Temos muitas figuras, mas estaremos apresentando apenas algumas que poderão contribuir p/ a vida cotidiana do acadêmico.

13.1. Figuras de pensamento
As figuras de pensamento são recursos de linguagem que se referem ao significado das palavras, ao seu aspecto semântico.

Antítese
Ocorre antítese quando há aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos.
“Amigos e inimigos estão, amiúde, em posições trocadas. Uns nos querem mal, e fazem-nos bem. Outros nos almejam o bem, e nos trazem o mal.” (Rui Barbosa)
“Onde queres prazer sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido sou herói” (Caetano Veloso)

Paradoxo
Ocorre paradoxo não apenas na aproximação de palavras de sentido oposto, mas de idéias que se contradizem. É uma verdade enunciada com aparência de mentira.
“O mito é o nada que é tudo.” (Fernando Pessoa)
“Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.” (Camões)
“Este Amor, que, afinal, é a minha vida
e que será, talvez, a minha morte,
amor que me acalora e me intimida,
que me põe fraco quanto me põe forte;
este Amor, que é um broquel e é uma ferida,
vai decidir, por fim, a minha sorte.” (Hermes Fontes)

Eufemismo
Ocorre eufemismo quando uma palavra ou expressão é empregada para atenuar uma verdade tida como penosa, desagradável ou chocante.
“Si alguma cunhatã se aproximava dele para fazer festinha,
Macunaíma punha a mão nas graças dela, cunhatã se afastava.”
(Mário de Andrade)
“E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague.” (Chico Buarque)

Hipérbole
Ocorre hipérbole quando há exagero de uma idéia, a fim de proporcionar uma imagem emocionante e de impacto.
“Rios te correrão dos olhos, se chorares!”
(Olavo Bilac)

“Um quarteirão de peruca para Clodovil Pereira.”
(José Cândido Carvalho)
“Na chuva de cores
Da tarde que explode
A lagoa brilha”
(Carlos Drummond de Andrade)


Ironia
Ocorre ironia quando, pelo contexto, pela entonação, pela contradição de termos, sugere-se o contrário do que as palavras ou orações parecem exprimir. A intenção é depreciativa ou sarcástica.
“Moça linda, bem tratada, três séculos de família, burra como uma porta: um amor.” ( Mário de Andrade)
Prosopopeia
Ocorre prosopopéia quando se atribui movimento, ação, fala, sentimento, enfim, caracteres próprios de seres animados a seres inanimados ou imaginários.
Também a atribuição de características humanas a seres animados constitui prosopopéia, como este exemplo de Mário Quintana: “O peixinho (...) silencioso e levemente melancólico....”
“... a Lua tal qual a dona do bordel pedia a cada estrela fria um brilho de aluguel” (João Bosco & Aldir Blanc)
“... os rios vão carregando as queixas do caminho.”

13.2. Figuras de palavra
As figuras de palavras consistem no emprego de um termo com sentido diferente daquele convencionalmente empregado, a fim de se conseguir um efeito mais expressivo na comunicação.
Comparação
Ocorre comparação quando se estabelece aproximação entre dois elementos que se identificam, ligados por conectivos comparativos explícitos - feito, assim como, tal, como, tal qual, tal como, qual, que nem - alguns verbos - parecer, assemelhar-se e outros.
“Amou daquela vez como se fosse máquina.
Beijou sua mulher como se fosse lógico.
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas.
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro.
E flutuou no ar como se fosse um príncipe.
E se acabou no chão feito um pacote bêbado.” (Chico Buarque)
“A liberdade das almas, frágil, frágil como o vidro.”
(Cecília Meireles)
“Meu amor me ensina a ser simples
Como um largo de igreja.” (Oswald de Andrade)

Metáfora
Ocorre metáfora quando um termo substitui outro através de uma relação de semelhança resultante da subjetividade de quem a cria. A metáfora também pode ser entendida como uma comparação abreviada, em que o conectivo não está expresso, mas subentendido.
“O tempo é uma cadeira ao sol, e nada mais.”
(Carlos Drummond de Andrade)
“Minhas sensações são um barco de quilha pro ar.”
(Fernando Pessoa)

Metonímia
Ocorre metonímia quando há substituição de uma palavra por outra, havendo entre ambas grau de semelhança, relação, proximidade de sentido, ou implicação mútua. Tal substituição realiza-se de inúmeros modos:
O continente pelo conteúdo e vice-versa
Antes de sair, tomamos um cálice de licor.
O conteúdo de um cálice.
O lugar de origem ou de produção pelo produto
Comprei uma garrafa do legítimo porto.
(O vinho da cidade do Porto.)
Ofereceu-me um havana.
(Um charuto produzido em Havana.)
O autor pela obra
Ela aprecia ler Jorge Amado.
(A obra de Jorge Amado.)
Compre um Portinari.
(Um quadro do pintor Cândido Portinari.)
O abstrato pelo concreto e vice-versa:
Não devemos contar com o seu coração.
(Sentimento, sensibilidade)
A velhice deve ser respeitada.
(As pessoas idosas.)
13.3. Figuras de harmonia ( sonoridade)
Chamam-se figuras de som ou de harmonia os efeitos produzidos na linguagem quando imitar sons produzidos por coisas ou seres.
Aliteração
Ocorre aliteração quando há repetição da mesma consoante ou de consoantes similares, geralmente em posição inicial da palavra.
“Toda gente homenageia Januária na janela.” (Chico Buarque)
“Quando essa preta começa a tratar do cabelo
é de se olhar toda a trama da trança e transa do cabelo.”
(Caetano Veloso)
“Chove chuva choverando.” (Oswald de Andrade)
Assonância
Ocorre assonância quando há repetição da mesma vogal ao longo de um verso ou poema.
“Sou Ana, da cama
da cana, fulana, bacana
Sou Ana de Amsterdam.” ( Chico Buarque)
A ponte aponta
e se desponta.
A tontinha tenta
limpar a tinta
ponto por ponto
e pinta por pinta...” (Cecília Meireles)

13.4. Aspectos sintáticos
Elipse
Omissão de um termo facilmente subentendido. Dito ou não anteriormente.
“No mar, tanta tormenta e tanto dano.”
(Camões)
Elipse do verbo haver (no mar há tanta ...)

Pleonasmo
Reforço estilístico da expressão. Consiste na repetição de uma idéia anteriormente sugerida ou na repetição de um termo já expresso.
“Ele admirava menos a tela que a pintora,
ela menos o espetáculo que o admirador, e
eu via-os com estes olhos que a terra há de
comer.” (Machado de Assis)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

TEORIA LITERÁRIA: NOÇÕES BÁSICAS.

O QUE É LITERATURA?
“Arte literária é mimese(imitação); é a arte que imita pela palavra.” (Aristóteles,séc.IV a.c.)
Assim:
• Literatura como imitação da realidade;
• Manifestação artística;
• A palavra como matéria-prima;
• Manifestação da expressividade humana

FUNÇÕES DA LITERATURA:
• Função evasiva – fuga da realidade;
• Função lúdica – jogo de experiências sonoras e de relações surpreendentes;
Ex. A ONDA (Manuel Bandeira)
A onda anda
Aonde anda
A onda?
A onda ainda
Ainda onda
Ainda anda
Aonde?
Aonde?
A onda a onda

• Função de “Arte pela arte” – descompromissada das lutas sociais (Parnasianismo)
• Função de literatura “engajada” – comprometida com a defesa de certas idéias políticas.

Ex. NÃO HÁ VAGAS (Ferreira Gullar)

O preço do feijão não cabe no poema.
O preço do arroz não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás, a luz, o telefone, a sonegação do leite, da carne, do açúcar, do pão.

O funcionário público não cabe no poema,
com seu salário de fome, sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema o operário que esmerila seu dia de aço e carvão.
Nas oficinas escuras - porque o poema, senhores está fechado: “Não há vagas”
Só cabem no poema o homem sem estômago, a mulher de nuvens a fruta sem preço.
O poema, senhores, não fede Nem cheira.
(Antologia Poética)

Nosso interesse está na literatura dita “canonizada” – conj. de obras escritas e aceitas como artisticamente valiosas e representativas de nossa herança cultural.

Ex. “Dom Casmurro”, de Machado de Assis; “Vidas secas”, de Graciliano Ramos; “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector, dentre outras.

LITERATURA É A ARTE DA LINGUAGEM ESCRITA, QUE EXPLORA TODAS AS POTENCIALIDADES DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO E É CAPAZ DE TRANSPOR LIMITES DE TEMPO E ESPAÇO.

DIFERENÇAS ENTRE UM TEXTO LITERÁRIO E UM NÃO-LITERÁRIO:

Texto Literário:

• ênfase na expressão;
• linguagem conotativa;
• linguagem mais pessoal, emotiva;
• recriação da realidade;
• ambigüidade – recurso criativo.

Texto não-literário:

• Ênfase no conteúdo;
• Linguagem denotativa;
• Linguagem mais impessoal;
• Realidade apenas traduzida;
• Normalmente sem ambigüidade ou duplas interpretações.

Texto 1:

“Uma nuvem colossal em forma de cogumelo sobre a cidade japonesa de Hiroxima assinala a morte de 80 mil de seus habitantes – vítimas do primeiro ataque nuclear do mundo, em 6 de agosto de 1945. O lançamento da bomba, uma das duas únicas do arsenal americano, foi feito para forçar os japoneses à rendição. Como não houve resposta imediata, os americanos lançaram outro “artefato” remanescente sobre Nagasaqui e os russos empreenderam a prometida invasão à Manchúria. Uma semana depois, o governo japonês concordou com os termos da rendição e a capitulação formal foi assinada em 2 de setembro.” (“A sombra dos ditadores”, História dos ditadores, 1993, p.88)

Texto 2

A ROSA DE HIROXIMA
(Vinícius de Moraes)

Pensem nas crianças, mudas telepáticas.
Pensem nas meninas cegas inexatas.


Pensem nas mulheres, rotas alteradas.
Pensem nas feridas, como rosas cálidas.
Mas oh não se esqueçam da rosa, da rosa
da rosa de Hiroxima, a rosa hereditária, a rosa radioativa, estúpida e inválida.
A rosa com cirrose, a anti-rosa atômica.
Sem cor sem perfume, sem rosa sem nada.

Quanto à disposição gráfica, um texto literário pode ser:
Prosa: em linhas “corridas”.
Poesia (verso): a cada linha dá-se o nome de verso e ao conjunto deles, estrofe.

Estilo individual: é o estilo único de determinado escritor, ou seja, sua visão única e modo próprio de criação literária.

Estilo de época: características comuns em obras de autores diferentes,mas contemporâneos.

Ex. embora Bernardo Guimarães e José de Alencar tenham estilos diferentes, ambos pertencem ao Romantismo.


Escolas literárias: (ou estilos de época)
• Quinhentismo – (1500 – 1601)
• Barroco – (1601 – 1768)
• Arcadismo – (1768 – 1836)
• Romantismo – (1836 – 1881)
• Realismo/Naturalismo/Parnasianismo – ( 1881 – 1922)
• Simbolismo – (1893 – 1922)
• Pré-modernismo – (1902 – 1922)
• 1ª ger. Modernista – (1922 – 1930)
• 2ª ger. Modernista – (1930 – 1945)
• 3ª ger. Modernista – (1945 – 1960)
Literatura contemporânea – (1960 – até nossos dias)

GÊNEROS LITERÁRIOS:

Conjuntos de elementos semânticos, estilísticos e formais utilizados pelos autores em suas obras, para caracterizá-las de acordo com a sua visão da realidade e o público a que se destinam.

Lírico: sentimental, poético.
Épico: narrativo.
Dramático: teatro.

AULA 2 – TEORIA LITERÁRIA

GÊNERO LÍRICO: é a manifestação literária em que predominam os aspectos subjetivos do autor. É, em geral, a maneira de o autor falar consigo mesmo ou com um interlocutor particular (amigo, amante, fantasia, elemento da natureza, Deus...)

Não confundir “eu - lírico” com o autor. O “eu - lírico” ou “eu - poético” é uma espécie de personalidade poética criada pelo autor que dá vazão a sensações e/ou impressões.

ELEMENTOS DA VERSIFICAÇÃO: Elementos técnicos que auxiliam a leitura, a interpretação e a análise de textos poéticos.

1. Verso e Estrofe:
Cada linha = verso
Conjunto de versos = estrofe

Classificação das estrofes:
• Dísticos = 2 versos

Ex. Canção do exílio (José Paulo Paes)
Um dia segui viagem
Sem olhar sobre o meu ombro

Não vi terras de passagem
Não vi glórias nem escombros.

Guardei no fundo da mala
Um raminho de alecrim.

(...)
• Tercetos = estrofes com 3 versos
Ex. Os Lírios (Henriqueta Lisboa)

Certa madrugada fria
Irei de cabelos soltos
Ver como nascem os lírios.

Quero saber como crescem
Simples e belos – perfeitos! –
Ao abandono dos campos.
(...)

• Quartetos = 4 versos
Ex. Infinito presente (Helena Kolody)
No movimento veloz
De nossa viagem,
Embala-nos a ilusão
Da fuga do tempo.

Poeira esparsa no vento,
Apenas passamos nós.
O tempo é mar que se alarga
Num infinito presente.


• Oitavas = 8 versos
Ex. Os Lusíadas (Canto primeiro) - Camões

As armas e os barões assinalados
Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram.

• Décimas = 10 versos
Ex. As duas ilhas (Castro Alves)
São eles – os dois gigantes
No século de pigmeus.
São eles que a majestade
Arrancam da mão de Deus.
- Este concentra na fronte
Mais astros – que o horizonte
Mais luz – do que o sol lançou!...
- Aquele – na destra alçada
Traz segura sua espada
- Cometa, que ao céu roubou!...


• Soneto: composição poética de 14 versos = 2 quartetos e 2 tercetos

Ex. Soneto de Fidelidade (Vinícius de Moraes)

1. Rimas: coincidência de sons (total ou parcial) entre palavras no final ou no meio dos versos.
Classificação das rimas:

• Quanto à categoria gramatical:

POBRES: as palavras que rimam pertencem à mesma classe gramatical.

Exemplo: .........situado (adjetivo)
.........cresce (verbo)
.........parece (verbo)
.........quebrado (adjetivo)

RICAS: as palavras que rimam pertencem a classes gramaticais distintas.

Exemplo: ............arde (verbo)
............distante (advérbio)
............diamante (substantivo)
............tarde (substantivo)

• Quanto à disposição ao longo do poema:

ALTERNADAS ou CRUZADAS:

Incendeia A
Coração B
Passeia A
Canção B


PARALELAS ou EMPARELHADAS

Aniquilar A
Olhar A
Montanhas B
Entranhas B
INTERPOLADAS ou OPOSTAS

Espelho A
Disfarce
Disfarçar-se
Conselho? A

Versos brancos são os que não apresentam rima.

1. Métrica: É o número de sílabas poéticas do verso.
Na contagem das sílabas métricas (escansão), observam-se, geralmente, as seguintes normas:
• A leitura de um verso deve ser caracterizada pelo ritmo;
• Faz-se a contagem de sílabas até a sílaba tônica da última palavra;
• Acomodar as sílabas seguindo a entonação. Elisão = supressão de sons ou a sinalefa = acomodação de vários sons a uma única sílaba métrica).
• Os ditongos, em geral, equivalem a apenas uma sílaba métrica;
• Normalmente, quando uma palavra termina em vogal e a outra começa por vogal, unem-se esses fonemas numa única sílaba métrica.

Exemplos: Ouviram do Ipiranga as margens plácidas

Ou – vi – ram – do – I – pi – ran – ga – as – mar – gens – plá – ci – das = 14 sílabas gramaticais
Ou – vi – ram – doI – pi – ran – gaAs – mar – gens – plá = 10 sílabas poéticas

De um povo heróico o brado retumbante

De – um – po – vo – he – rói – co – o - bra – do – re – tum – ban – te = 14 sil. gramaticais

Deum – po – vohe – rói – coo- bra – do – re – tum – ban = 10 sil. Poéticas

Tais versos são “decassilábicos” = 10 versos

Pentassílabos ou redondilha menor (5 sílabas)

E agora, José?
A festa acabou,
A luz apagou,
O povo sumiu.
(...)

Heptassílabos ou redondilha maior (7 sílabas)

Como são belos os dias
Do despontar da existência
(...)

Eneassílabos = 9 sílabas

Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
(...)

Dodecassílabo ou alexandrino: 12 sílabas poéticas

Olhai! O sol descamba... À tarde harmoniosa
Envolve luminosa a Grécia em frouxo véu,
Na estrada ao som da vaga, ao suspirar do vento,
De um marco poeirento um velho então se ergueu.
Versos livres são os que não apresentam métrica regular.

Ritmo: a musicalidade implícita ou explícita no poema.
A Banda (Chico Buarque)
Estava à toa na vida,
O meu amor me chamou,
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor. (...)

GÊNERO DRAMÁTICO: textos para serem representados no palco.
• Tragédia: fato trágico que provoca reação de medo ou compaixão. Ex. “Édipo Rei”, de Sófocles

• Comédia: satirização dos costumes sociais. Ex. “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade.

• Drama: envolve a tragédia e a comédia. Ex. “Eles não usam black-tie”, de G. Guarnieri.

• Farsa: pequena peça que critica a sociedade e seus costumes. Ex. “A Farsa de Inês Pereira”, de Gil Vicente.

• Auto: peça breve, de tema religioso ou profano, de aspecto moralista. Ex. Auto da Barca da Glória, de Gil Vicente.

Colaborou - Profª Leila